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Memória e Carnaval

O Carnaval de Poços de Caldas passa por 2016 com a sensação do luto. A empolgação dos foliões continuou na avenida, mas muitos carregaram consigo a saudade de quem se foi. Apenas no ano passado perdemos o abnegado Rui Muniz, o extrovertido Gordo, os companheiros Sebastião e Maria de Lourdes Baraldi e a guerreira Tia Geni.

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Rui passou pelas escolas União Imperial, Unidos da Baixada e Pererê do Amanhã.

Abnegado
A primeira perda para o Carnaval poços-caldense em 2015 ocorreu em 19 de março. Vítima de insuficiência renal, cardíaca e respiratória, Rui Francisco Flora Muniz deixou o Conjunto Habitacional.
Rui ficou conhecido como representante da Zona Sul e apaixonado pelo Carnaval. A dedicação à folia também era fruto da parceria com a esposa Geni de Souza Flora Muniz. O casamento começou em 1982 e juntos eles viveram pelo menos três décadas de dedicação à festa, passando pelas escolas União Imperial, Unidos da Baixada e Pererê do Amanhã.
Rui gostava de ser o responsável pelas Relações Públicas das agremiações. Tinha contato com a imprensa e levava o nome das escolas para todos os veículos. Também era o responsável pela preparação das rainhas, com eficiência mais do que suficiente para garantir a vitória das candidatas que passavam por ele.
Entre os momentos mais felizes, a viúva destaca a vitória da Unidos da Baixada em 2009, no Grupo Especial, com enredo sobre o Taj Mahal. “Quando a Baixada ganhou ele só faltou infartar. Vibrava demais, gritava ‘É Campeão!’, pegava os moleques e jogava pra cima”, conta.
Rui dedicou-se ao Carnaval mas, antes disso, à Zona Sul. Era presença recorrente na prefeitura e nos jornais, sempre lutando por melhorias. Geni o descreve como um abnegado. “Ele era um abnegado da zona sul. Brigava por aqui e brigou até o último dia. Enquanto tinha forças, ele brigou”.
Gordo era presidente da Pererê.
Gordo era presidente da Pererê.

Extrovertido
Em maio a comunidade da Pererê do Amanhã foi surpreendida com uma fatalidade. Eduardo Jesus de Souza, conhecido como ‘Gordo’, morreu aos 45 anos, após sofrer um acidente de moto na estrada entre Poços e Palmeiral.
Gordo era presidente da agremiação, cargo que agora é ocupado por Edson Roberto Batista, o ‘Carneirinho’. “Eu virei presidente porque ele deixou a gente, mas gostaria de ser vice para o resto da minha vida”, diz.
A amizade entre os dois começou há décadas, quando Carneirinho levava visitantes para o Gordo, que era guia turístico. Daí a amizade foi para a Saci-Pô e seguiu por toda a vida. Carneirinho fala do amigo com grande admiração. “Um cara completamente extrovertido, aberto a diálogos, a brincadeira, mas na hora que precisava ser enérgico você tinha que respeitar. Conversava com diretor de TV, por exemplo, com prefeito, com todo mundo, de igual para igual”.
Sebastião e Maria Baraldi faziam parte do bloco Em Cima da Hora.
Sebastião e Maria Baraldi faziam parte do bloco Em Cima da Hora.

Companheiros
A Passarela do Samba não terá a presença de um dos blocos mais animados neste ano. Os palhaços do Em Cima da Hora vão recolher as balas, confetes e serpentinas devido ao falecimento de duas importantes figuras: Sebastião Baraldi, aos 79 anos, e Maria de Lourdes Baraldi, aos 77.
Era o Sebastião que dirigia o carro do bloco, soltando fumaça e liberando explosões de confete na avenida. A mãe cuidava das fantasias.  Juntos, eram presença garantida no Carnaval.
Sebastião começou a se envolver com a folia ainda na década de 1970, com o bloco My Nem Ky Tussa. A paixão pelo Carnaval ficou ainda maior devido aos filhos do casal, que sempre puxaram os pais para as festas.
Ele faleceu dia oito de outubro. Menos de um mês depois, dia quatro de novembro, foi a vez dela. Entre si, eram grandes parceiros. Para os filhos, os maiores incentivadores. “Meu pai e minha mãe sempre foram companheiros dos seus filhos. Eles sempre gostaram de estar envolvidos no que os filhos estavam, não mediam esforços para acompanhar”, reconhece o filho Jeter Baraldi.
Tia Geni comandava a Amigos do Casca
Tia Geni comandava a Amigos do Casca

Guerreira
Ainda em novembro, a tradicional Amigos do Casca perdeu sua maior inspiração: Tia Geni. Aos 78 anos, teve uma parada cardíaca. Por isso a escola volta a ser um bloco caricato, mas mantém vivo o legado de alegria deixado por ela.
A filha Maria Cláudia conta que depois da morte passou a conhecer mais sobre o passado da mãe. Histórias de pessoas que haviam sido ajudadas por Tia Geni chegaram aos montes e a ajudaram a superar a dor da perda.
Religiosa, Geni compareceu à cerimônia e beatificação de Nhá Chica e preparava uma excursão para a beatificação de Padre Victor. Além disso, promovia todos os anos um terço entre os devotos de São Pedro, sempre dia 30 de junho.
Mãe solteira, criou os cinco filhos fazendo faxina e garantiu a todos a educação em escolas particulares. Grandes conquistas para uma grande mulher. “Minha mãe foi uma guerreira”, resume Maria Cláudia.
 
*Esta reportagem foi publicada na revista Seleções Carnavalescas de 2016.

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